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Assédio de ambulantes irrita turistas em Salvador; bênção de axé chega a custar R$100

O principal problema relatado pelos turistas é o fato de os comerciantes não aceitarem não como resposta e iniciar a abordagem dizendo que o produto é gratuito.

Cara para cima, roupa arrumada, máquina na mão e sotaque diferente. Vendedores e ambulantes de pontos turísticos de Salvador sabem em quem ir quando querem empurrar produtos e serviços. Para o turista que não sabe se esquivar desse assédio, a conta do rolê pode sair por até R$ 114, como no caso do fotógrafo e influencer Kadu Pacheco, que fez um vídeo viral relatando sua situação no fim de semana, no Farol da Barra. A publicação já tem mais de 172 visualizações.  

Pacheco dava seu primeiro rolê sozinho em Salvador, na última sexta-feira (28) e gastou exatos R$ 114 pela famosa pintura de Olodum no corpo e colares típicos da Bahia. A fitinha do Bonfim, pelo menos, foi de graça. O prejuízo foi grande porque, segundo ele, não disse não o suficiente e os ambulantes se aproveitaram de sua inocência.  

“Acho que a forma de abordagem foi muito pesada, ainda mais porque eu estava sozinho, então me senti realmente intimidado. Disse não umas trinta e cinco vezes e não adiantava. Quando eu via, já estava com colar no pescoço e ele dizia que tinha que levar porque já tinha colocado no pescoço, mas quem colocou foi ele e, no fim, parecia que eu que tinha pedido”, conta Pacheco.  

Os colares ele ainda teve que pechinchar, porque o ambulante queria cobrar R$ 150 pelos três. “Só tinha R$ 94, ele nem queria aceitar, mas levou”, conta. Pouco tempo depois, enquanto fazia fotos, timbaleiros começaram a pintar seu braço e perna. “Eles nem perguntaram nem nada, já começaram a pintura e falaram que se eu recusasse, seria desrespeito à cultura da Bahia. Depois, me cobraram R$ 50”, narra o carioca. Ele deu o que tinha restado no bolso: uma nota de R$ 20. 

Ele não é a primeira nem será a última vítima. O Correio foi em cinco pontos turísticos de Salvador, na manhã desta segunda-feira (31), e várias abordagens foram presenciadas, principalmente, no Farol e no Pelourinho. Nem todas eram intimidadoras e a maioria dos que vendia tinha credenciamento da prefeitura.  

O principal problema relatado pelos turistas é o fato de os comerciantes não aceitarem não como resposta e iniciar a abordagem dizendo que o produto é gratuito. Depois que o visitante já está com a mercadoria, vem a cobrança. Isso aconteceu com a cabeleireira Aparecida Romero, 56, no Largo Terreiro de Jesus, com um grupo que fazia roda de capoeira. “Eles incentivaram a gente a fazer foto e filmar e não foi dito antes que seria cobrado alguma coisa. Se tivesse, a gente não faria as fotos”, conta Aparecida.  

Natural do Espírito Santo, também era a primeira vez dela na Bahia. “Ele pediu uma ajudinha, disse que podia ser pix, no cartão, depois pediu que a gente pagasse comprando duas águas de coco”, acrescenta. “O problema é que eles ficam bravos e, infelizmente, tem muito isso aqui. Salvador peca muito com isso”, completa a cabeleireira, que elogiou a cidade, apesar do inconveniente.  

Já o casal Ingrid Nunes, que é advogada, e Elton Flores, cabeleireiro, do Rio Grande do Sul, pagaram R$ 60 por uma pintura do Olodum e R$ 100 cada por uma benção de axé, no Pelourinho. “A gente, desde o começo, perguntou: é pago? Eles não falam, só dizem que é bom para tirar foto”, diz Ingrid. Eles relatam que essas situações são recorrentes em pontos turísticos da cidade. “Sempre falam que é cortesia, te enrolam e cobram depois. E ainda batem boca, que fica feio, parece que fica forçando a gente a adquirir o produto. Eles usam a inocência da gente”, completa Flores.  

Com o gerente de projetos André Reis, 34, de Campinas, no interior de São Paulo, os produtos ‘empurrados’ foram colares e fitas do Bonfim. “Ficam tentando enfiar as coisas na gente, dizendo que era presente, mas nossa amiga já tinha avisado e a gente não deixou eles colocarem na gente”, relata Reis.  

Credenciamento e capacitação 
A baiana de receptivo Flávia Florêncio, 44, que atua há sete anos no Farol da Barra, disse abordagens intimidadoras não são maioria e que os timbaleiros são os mais desrespeitosos nesse sentido. “Sempre inicio minha abordagem dando bom dia e boa tarde, brinco, ofereço a foto, não cobro e, em troca, ofereço meu trabalho. Não obrigo eles a comprarem”, defende-se. 

Ela conta ainda que é comum o inverso: turistas a tratarem mal. “Tem turista que destrata vendedor, que é preconceituoso, nem quer que a gente encoste. E a gente sempre recebe com sorriso no rosto, porque não revido”, revela Flávia. Ela vende colares por R$ 20 a R$ 25 e chaveiros por R$20, três unidades. Já o timbaleiro Leandro Nunes, leva até o filho, de nove anos, para pintar os turistas, cobrando R$ 20 pelos desenhos. De acordo om Nunes, ele sempre pergunta antes de abordar o turista, pois foi instruído dessa forma, com o curso de capacitação da prefeitura.  

A prefeitura, por sua vez, através da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), afirma que tem trabalhado para oferecer capacitação aos ambulantes, “no sentido de promover mais qualidade nos serviços prestados pelos trabalhadores a moradores e visitantes e, consequentemente, retorno positivo para estes profissionais”, explica, por meio de nota.  

Segundo a Semop, uma das principais iniciativas é o programa Sou Salvador. Ele ofereceu, em 2021, capacitação e estímulo ao empreendedorismo para os ambulantes que atuam no Centro Histórico. A ação englobou entrega de novos fardamentos aos permissionários, com número de identificação vinculado à licença, além de um QR Code para controle de pesquisa de satisfação dos serviços prestados aos clientes.  

A pasta diz que a iniciativa deve englobar trabalhadores de outras regiões da cidade em 2022 e que caso os cidadãos sintam-se lesados, a orientação é procurar as autoridades de segurança pública. 

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Foto: Arisson Marinho/Correio

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