Professora de Camaçari é apedrejada por alunos em caso de intolerância religiosa e racismo
Docente, que também é candomblecista, denuncia agressões verbais e físicas à polícia e ao Ministério Público.
A professora Sueli Santana, que atua na rede municipal de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), registrou um boletim de ocorrência e formalizou uma denúncia no Ministério Público após sofrer agressões físicas e verbais de alunos. Os episódios, marcados por racismo e intolerância religiosa, ocorreram na Escola Municipal Rural Boa União, na Zona Rural de Abrantes.
Conforme relato da professora ao site Farol da Bahia, as ofensas começaram no início do ano letivo, quando três alunos, todos da mesma família e com idades entre 10 e 12 anos, se recusaram a participar de uma aula sobre cultura afro-brasileira. A disciplina é prevista pela Lei 10.639/2003, que estabelece o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.
“No início do ano, chegaram novos alunos e, entre eles, três pertencentes a uma família evangélica tradicional. Essas crianças se incomodaram ao me verem em uma sexta-feira com minhas vestes tradicionais do Candomblé. Eu sou professora da rede municipal, mas também sou makota do Terreiro de Lembarocy, em Salvador. Makota é um título candomblecista, e eu sempre assumi minha religiosidade. Vou de branco toda sexta-feira à escola e, quando estou em rituais, além de vestir branco, cubro minha cabeça”, afirmou Sueli.
De acordo com a professora, as agressões verbais, que incluíram termos como “bruxa”, “demônia” e “macumbeira”, evoluíram para agressões físicas em outubro e novembro. No episódio mais grave, em 30 de outubro, a docente foi apedrejada pelos alunos. A direção da escola já havia tentado intervir, chamando os responsáveis pelas crianças, mas não conseguiu conter os ataques.
A Secretaria de Educação de Camaçari foi acionada, mas, segundo Sueli, a única orientação recebida foi para suspender o uso do livro didático ABC Afro Brasileiro.
“Fui proibida de trabalhar com o livro até que alguém fosse à escola conversar com os pais, como se a aplicação da lei precisasse ser autorizada”, criticou.
Carla Fagundes, representante do sindicato dos professores de Camaçari, repudiou o caso em uma rede social, destacando que o episódio marcou o Novembro Negro da educação municipal de forma “profundamente triste”.
“O Novembro Negro da educação de Camaçari foi profundamente marcado pelo triste episódio de racismo”.
As investigações sobre o caso estão em andamento, e a professora segue recebendo apoio de entidades de defesa dos direitos humanos e movimentos antirracistas.
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