Despacho da primeira instância do Ministério Público Federal foi enviado à Procuradoria-Geral da República e à Advocacia-Geral da União
Em um despacho assinado no último dia 25 de janeiro, o procurador da República Anselmo Cordeiro Lopes afirma que Augusto Aras, chefe da Procuradoria-Geral da República durante o governo de Jair Bolsonaro, contribuiu para que a trama golpista investigada pela Polícia Federal avançasse.
Lopes é responsável por acompanhar, no Ministério Público Federal em Brasília, as providências adotadas por autoridades de segurança pública para acompanhar manifestações políticas contra o resultado das eleições presidenciais de 2022 e para evitar atos antidemocráticos.
Semanas antes dos ataques de 8 de janeiro, como parte desse procedimento, a primeira instância do MPF na capital federal havia recomendado que os órgãos de segurança agissem em conjunto para evitar o risco de manifestações violentas e monitorassem “conjuntamente e continuamente” possíveis pontos de tensão.
O texto mencionava, nominalmente, a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes e o acampamento montado, à época, na frente do quartel-general do Exército.
A recomendação parecia prever o desastre. Só que, no despacho recém-assinado e obtido com exclusividade pela coluna, Lopes afirma que seu alcance foi parcialmente prejudicado pela atuação de Augusto Aras.Play Video
Segundo ele, Aras, a partir do cargo de PGR, impediu que o documento expedido pela primeira instância do MPF em Brasília chegasse aos seus destinatários — no caso, as autoridades militares que deveriam cumprir as medidas.
À época, em um despacho, o então PGR ordenou que a recomendação fosse devolvida porque, nas palavras dele, extrapolava as atribuições dos procuradores de primeira instância que a assinavam.
Anselmo Lopes cita, ainda, outras medidas de Aras que teriam inibido a atuação de procuradores de primeira instância de diversos estados contra os atos antidemocráticos que resultaram no 8 de janeiro. Em uma delas, como a coluna noticiou, Aras mandou encerrar grupos de trabalho montados para monitorar os movimentos golpistas.
“No caso do Rio de Janeiro, noticiou-se também que o Dr. Augusto Aras não somente se negou a compartilhar provas sobre investigações de atos antidemocráticos como também teria representado à Corregedoria-Geral do MPF contra procuradores da República lotados no Rio de Janeiro que atuavam contra a prática de tais ações”, afirma.
“As mencionadas circunstâncias contribuíram para que o avanço das ações antidemocráticas ocorresse sem a coibição que exigia a ordem jurídica”, prossegue Lopes.
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