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Papa Francisco recebe carta de Caetano Veloso com ‘pedido de socorro’ mencionando a violência na Bahia

No documento, datado de 28 de setembro de 2023, Caetano afirmou que “a violência também tomou conta da Bahia”.

Caetano Veloso entregou uma carta ao Papa Francisco, líder da Igreja Católica em todo o mundo, com um “pedido de socorro” quanto à insegurança no Brasil, sobretudo na Bahia, estado de origem do cantor. O artista de 81 anos encontrou com o religioso na manhã [horário do Brasil] desta quinta-feira (28), no Vaticano.

No documento, datado de 28 de setembro de 2023, Caetano afirmou que “a violência também tomou conta da Bahia”.

“Estou assustado ao constatar que – apenas nestes primeiros 24 dias de setembro – já foram registradas pelo menos 46 mortes em confrontos policiais em todo o estado. A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês”, escreveu.

Até esta quinta, quase 60 mortes foram registradas no estado, em confrontos entre policiais e criminosos, segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). O último deles ocorreu na noite de quarta-feira (27), em Salvador, e resultou na morte de dois agentes da Polícia Militar e dois suspeitos.

Caetano destacou que estas mortes aconteceram principalmente em bairros periféricos de Salvador, e mencionou as localidades de Alto das Pombas, Calabar, Valéria e Águas Claras.

“Diante dessa situação de agravamento da violência no Brasil peço que Vossa Santidade volte o seu olhar e suas orações para o nosso país. Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida”, pediu o artista.

No texto, ele se apresentou como baiano de Santo Amaro da Purificação, no recôncavo, e filho de Dona Canô, que “lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota”. Ela morreu em dezembro de 2012, aos 105 anos de idade.

Confira abaixo a íntegra da carta escrita por Caetano Veloso:

“Vaticano, 28 de setembro de 2023

Vossa Santidade, Papa Francisco,

É com alegria especial que chego aqui, na Santa Sé, para este encontro. Sou da cidade de Santo Amaro da Purificação. E desde menino acompanhava encantado a minha mãe, Dona Canô, com seus gestos de simplicidade, afeto e sabedoria.

Ela lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota.

Em 2007, na festa do centenário dela, a família, amigos e a cidade de Santo Amaro promoveram durante o ano uma série de homenagens à dona Canô. E o que nela provocou maior emoção foi a Igreja da Purificação receber a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.

É com esses ensinamentos de paz que chego aqui, diante de Vossa Santidade.

Nesses 10 anos de pontificado do primeiro Papa da América Latina, jesuíta e de nome Francisco, tenho acompanhado suas posições denunciando injustiças, alertando para a situação dos migrantes e sendo o autor da primeira encíclica ambiental: Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum. O texto é uma advertência necessária sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas.

Santo Padre, onde moro, na cidade do Rio de Janeiro, a violência atingiu índices iguais aos das grandes guerras pelo mundo. E o pior: vitimando cada vez mais crianças. A lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra. Só este ano, 10 crianças morreram dessa forma.

Recentemente, entrou nesta estatística a menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa, no Morro do Dendê, comunidade da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.

As vítimas têm em comum o fato de terem tido uma morte repentina enquanto viviam seus cotidianos. Com idades entre 9 e 13 anos. A chamada “guerra às drogas” até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas. Mas o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer.

Esse destino trágico também vitimou: Juan Davi de Souza Faria, 11 anos; Rafaelly da Rocha Vieira, 10 anos; Maria Eduarda Carvalho Martins, 9 anos; Ester de Assis Oliveira, 9 anos; Jhenyfer Luz Silva de Souza, 12 anos; Lohan Samuel Nunes Dutra, 11 anos; Yan Gabriel Marques, 12 anos; Dijalma de Azevedo, 11 anos; Thiago Menezes Flausino, 13 anos.

A violência também tomou conta da Bahia, estado em que nasci há 81 anos. Estou assustado ao constatar que – apenas nestes primeiros 24 dias de setembro – já foram registradas pelo menos 46 mortes em confrontos policiais em todo o estado. A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês. Essas mortes aconteceram principalmente em bairros periféricos de Salvador, como Alto das Pombas, Calabar, Valéria e Águas Claras.

Diante dessa situação de agravamento da violência no Brasil peço que Vossa Santidade volte o seu olhar e suas orações para o nosso país. Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida.

Com profunda admiração, meu abraço fraterno e meu pedido de socorro”.

Caetano Veloso

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