O pão nosso de cada dia: preço de um dos alimentos preferidos dos brasileiros deve subir nos próximos meses
Guerra entre Rússia e Ucrânia, principais exportadores de trigo do mundo, pode impactar também farinhas e massas.
De protagonista da edição 22 do “Big Brother Brasil” a item indispensável no café da manhã, o pão tem lugar garantido entre as preferências nacionais. Estima-se que o país tenha, hoje, cerca de 70 mil padarias, e que 41 milhões de pessoas entrem nelas diariamente para comprar o produto.
Além do sabor e da crocância, os pães também são responsáveis por boa parte das calorias necessárias por dia, principalmente entre os grupos de renda mais baixa, já que é um dos alimentos mais acessíveis. No entanto, o preço baixo do nosso pãozinho de cada dia pode estar com os dias contados.
Além da inflação em alta acentuada desde o começo de 2021 – em decorrência dos problemas econômicos e produtivos trazidos pela pandemia de Covid-19 -, que corrói o poder de compra dos consumidores, há outro fator que deve influenciar no preço dos pães e outros alimentos à base de trigo pelos próximos meses: a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Pode parecer estranho, já que os conflitos estão acontecendo há milhares de quilômetros do Brasil. Porém, aquela região do leste europeu é a principal responsável pelo abastecimento global de trigo, liderando as exportações da commodity, com cerca de 29% do mercado.
Como a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta o preço do trigo e do pão?
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, explica que Rússia e Ucrânia estão entre os cinco maiores exportadores de trigo do mundo. Dessa forma – e por se tratar de uma commodity, que tem o seu preço definido em bolsas de valores -, se a oferta for impactada e reduzida, em decorrência da guerra, o preço do produto subirá.
“A maior parte do trigo que é produzido na Ucrânia vem das regiões do país que foram ocupadas pela Rússia ou de regiões que estão em conflito. As demais localidades estão encontrando dificuldades para receber os insumos para a manutenção das lavouras ou sequer contam com mão de obra para o cultivo, uma vez que os homens estão na linha de frente da guerra”, explica Carla.
Já em relação à produção russa, a economista destaca que a situação é diferente, pois não há conflitos bélicos nas regiões produtoras e o país é um grande produtor de insumos utilizados nas lavouras. Entretanto, diversos países vêm aplicando embargos e sanções aos produtos russos, o que também pode afetar o preço global do grão.
Além disso, a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, destaca que, em meio a um conflito bélico, há também incertezas em relação ao transporte dos produtos. Ainda que o ocidente não estabeleça embargos contra o trigo da Rússia, a logística de transportar a commodity, principalmente por meio dos portos, de um país para outro deve ser afetada pelas diversas regiões sob ataques militares.
Impactos no Brasil
Rachel pontua que o Brasil não é dependente do trigo produzido no leste europeu. Aliás, há dois anos o país não importa a commodity da Rússia. No entanto, por ser um produto bastante comum, seu preço é negociado por investidores e agricultores nos mercados globais.
Assim, mesmo que o Brasil compre trigo de outros países, o preço do produto vai estar mais caro, independentemente de quem o exporta.
A economista-chefe da CM Capital ressalta que a maior parte do trigo consumido no Brasil vem da Argentina. “Por se tratar de uma commodity, o produto é idêntico em qualquer parte do mundo. A ausência de oferta por parte de uma dessas grandes regiões produtoras desloca a demanda para outro lugar”, afirma.
Por conta disso, explica Carla, a Argentina tende a ver alguns países que não procuravam seu trigo anteriormente fazendo isso agora, o que deve levar ao aumento do preço para todos os consumidores.
Indústria brasileira de pães
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (ABIP) e o Instituto Tecnológico de Panificação e Confeitaria (ITPC), em 2021, o setor de panificação movimentou R$ 105,85 bilhões. Esse valor é responsável por mais de 1% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no último ano, de R$ 8,7 trilhões.
O pão é um alimento tão importante no país que os levantamentos feitos pela ABIP e ITPC mostram que essa indústria conta com cerca de 2,5 milhões de funcionários diretos e indiretos. Outro estudo, desta vez do Sebrae, aponta que o consumo per capita de pão no Brasil é 22,61 quilos por ano.
Apesar do consumo expressivo, o Brasil não é um grande produtor de trigo – ou seja, a oferta mal daria para suprir a demanda doméstica, segundo Carla. Simultaneamente, com as condições climáticas adversas dos últimos meses na região Sul, a safra foi impactada negativamente, reduzindo a oferta de trigo brasileiro.
Outro ponto que as economistas destacam é que o transporte do produto do Sul para outras regiões do país é muito caro. “O sistema logístico nacional, que prioriza a malha rodoviária, torna essa movimentação extremamente custosa”, afirma Carla.
Quando o preço do pão vai ficar mais caro?
A economista avalia que o preço do pão deve começar a subir em, aproximadamente, três meses, com normalização apenas em 2023, já que a safra do trigo é anual. Isso se a guerra entre os países do leste europeu não demorar para terminar.
Rachel ressalta, ainda, que não só os pães devem ser afetados pela pressão inflacionária, mas todos os alimentos que dependem do trigo, como farinhas e massas.
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Terra/Foto: Maria Fernanda Perez/Pexels