Caso aconteceu durante abordagem no bairro de Paripe. Durante agressões, que foram flagradas em vídeo, PM diz: ‘Você para mim é ladrão, olha esse cabelo’.
“Eu gosto de ter o meu cabelo assim. É bonito, e é a primeira vez que acontece isso [agressão de policial]”, disse o adolescente que foi agredido por um policial militar durante abordagem no bairro de Paripe, no subúrbio ferroviário de Salvador. A ação aconteceu no último domingo (2) e foi filmada por moradores.
Em entrevista ao G1, a vítima contou que o caso aconteceu quando ele voltava da praia e ia levar a amiga da namorada dele no ponto de ônibus.
“A gente estava no ponto de ônibus, porque a gente tinha vindo da praia. Aí a gente parou para conversar. Ficou tarde, e aí fui levar a amiga de minha namorada no ponto. Chegou lá, demorou muito de passar ônibus, e meu colega me chamou para dormir na casa dele. Aí foi todo mundo para a casa dele, e chegando lá, um menino, colega meu, me parou com um carro e ficou na pista”, disse o jovem.
“Veio a viatura, e aí [os policiais] perguntaram o que estava acontecendo. A gente falou que não aconteceu nada e que a gente só estava conversando, aí ele foi e fez a abordagem”, contou a vítima.
Dois dias após a agressão, o jovem conta que ainda sente dor na barriga.
“Ele deu um chute na perna do meu colega, para ele abrir a perna. Eu falei que eu era trabalhador, aí ele foi e fez isso [agrediu a vitima]”.
Vídeo mostra truculência e racismo de policial em durante abordagem
O jovem lembra que o policial disse que ele não era trabalhador, era um “vagabundo” e “ladrão”, por causa do cabelo black power.
“[Disse] Que eu era vagabundo, ladrão, com aquele cabelo ali, que eu não era trabalhador não”, lembrou o adolescente.
A mãe do adolescente disse que não conseguiu ver as imagens da agressão. “Ele me contou no outro dia, aí a namorada dele foi e me amostrou o vídeo, e eu nem consegui ver o vídeo todo. Quando eu vi a primeira porrada nele, eu não quis mais assistir. Fiquei transtornada, fiquei sem falar, muito triste, sentida com aquilo que vi”, disse.
Ela espera que o caso seja apurado pela polícia e que o PM seja responsabilizado.
“Eu espero a justiça, porque nossos jovens, adolescentes, não podem passar por uma agressão como essa, apanhar assim no meio da rua”.
A Polícia Militar informou que o policial que aparece nas imagens foi identificado e ouvido nesta terça-feira (4). Entretanto, não detalhou se o suspeito será punido pela agressão.
Caso
Moradores registram agressão policial a jovem no subúrbio de Salvador — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Nas filmagens, também é possível ouvir o policial chamar o jovem de “viado”. Um dos militares agrediu um rapaz com murros e chute, e fez insultos racistas ao se referir ao cabelo dele.
Por meio de nota, a Polícia Militar informou que o vídeo será encaminhado para Corregedoria Geral da PM, para ser analisado. A PM disse ainda que “não preconiza com a violência e rechaça todo e qualquer tipo de conduta violenta”.
“Você para mim é ladrão, você é vagabundo. Olha essa desgraça desse cabelo aqui. Tire aí vá, essa desgraça desse cabelo aqui. Você é o quê? Você é trabalhador, viado? É?”, grita o militar, enquanto puxa um boné que a vítima usava. O mesmo policial chega a dar murros na costela do rapaz, além de um tapa no rosto e um chute na barriga.
Depois de agredir o jovem, o policial entrou na viatura e deixou o local. Toda a ação foi filmada de dentro do portão de uma casa. Além da vítima agredida, é possível ver que outros dois jovens também passaram pela abordagem policial.
Em publicação feita no perfil oficial no Twitter, na manhã de terça-feira (4), o governador Rui Costa comentou o caso. “Como governador do Estado da Bahia não admito comportamento de violência policial como o ocorrido no vídeo que circula nas redes sociais. É inaceitável, inadmissível e não reflete o comportamento e os ideais da instituição”, disse.
O governador afirmou ainda que acompanha a apuração do caso desde a divulgação feita pela imprensa. “Determinei apuração rigorosa e imediata da Corregedoria da Polícia Militar com as devidas punições legais aos responsáveis e divulgação para a sociedade das medidas adotadas. Para que esses casos isolados não possam continuar comprometendo a imagem da instituição”, escreveu na rede social.
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G1 Bahia/ Foto: Victor Silveira / TV Bahia