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Dia da Mata Atlântica: descoberta de espécie endêmica reforça a importância de proteção à Serra da Jiboia

A espécie, tão nova para a ciência, já encontra-se ameaçada de extinção e o único lugar onde pode ser encontrada é na Serra da Jiboia.

Quando decidiu fazer o seu mestrado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro sobre o gênero
botânico Senna, conhecido popularmente como São João, o biólogo Alexandre Gibau não
imaginava ainda que sua pesquisa o levaria até a Serra da Jibóia, um remanescente de
Mata Atlântica no Recôncavo Sul Baiano. Mas veio de lá o exemplar da planta, conservada
na forma de exsicata, que ele descreveu pela primeira vez para a ciência e a batizou de
Senna bahiensis.

A espécie, tão nova para a ciência, já encontra-se ameaçada de extinção e o único lugar onde pode ser encontrada é na Serra da Jiboia. A partir deste importante achado botânico, nesta sexta-feira (26), véspera do Dia da Mata Atlântica, o Gambá apresentou ao Secretário e ao Conselho Estadual de Meio Ambiente um documento reforçando o pedido de criação de Unidades de Conservação no local.

A descoberta da Senna bahiensis foi relatada em artigo de 2021. Alexandre desconfiou que
alguns exemplares disponíveis em herbários e classificados como sendo da espécie Senna
gardneri, nativa de áreas de Caatinga, na verdade poderiam ser uma espécie nova pois os
registros indicavam ocorrência em áreas mais úmidas, de Mata Atlântica. Ele estava certo.
Os estudos morfológicos e análise do padrão de nervação das folhas mostrou que se
tratava de uma espécie ainda não descrita. No final de 2022, o Centro Nacional de
Conservação da Flora realizou avaliação do seu status de conservação e chegou ao
alarmante resultado de que a espécie está criticamente em perigo e que a Serra da Jibóia é
o único lugar onde sua presença foi encontrada até o momento. Ou seja, trata-se de uma
espécie endêmica da área.

Alexandre Gibau explica no documento entregue ao secretário que a categoria “Criticamente em Perigo (CR)” é considerado o maior grau de ameaça que uma espécie pode receber antes da sua extinção. “Entre os motivos dessa classificação, pode-se citar a raridade e declínio populacional da espécie, e a ausência de unidade de conservação que proteja a espécie na serra da Jibóia. Dessa forma, a criação de unidades de conservação dentro da serra da Jibóia é urgente para a conservação da Senna bahiensis, mas também
para a conservação da sua excepcional biodiversidade, com muitas espécies raras e
endêmicas”, defende.

Além da Senna Bahiensis, em 2017 foi descoberta uma espécie de peixe inédita para a
ciência, o Aspidoras kiriri. E o levantamento bibliográfico realizado por equipe interdisciplinar
da UFRB em 2015 mostra que, à época, havia registros de 25 espécies descobertas na
área. Por conta dessa enorme biodiversidade – parte ainda desconhecida – a região aparece
como prioritária para conservação no levantamento conduzido pela Secretaria de Meio
Ambiente e WWF.

O Governo do Estado informa estar avaliando uma agenda de criação de novas Unidades
de Conservação, em 3 possíveis localizações, sendo uma delas, a Serra da Jibóia. Ainda
assim, a informação é de que há necessidade de estudos complementares para a questão
fundiária e que não há data para uma decisão.
Já existem também estudos conduzidos pelo Gambá e UFRB que apontam para a
necessidade de se criar um mosaico combinando UCs de uso sustentável e de proteção
integral para que a floresta seja conservada. A proposta de criação tem tido forte adesão
das comunidades e poderes públicos locais. Em 2020, as prefeituras de Castro Alves,
Elísio Medrado, Santa Teresinha, São Miguel das Matas e Varzedo, que englobam a serra,
chegaram a assinar uma carta de intenções manifestando o apoio à iniciativa, mas a
proposta de realizar os estudos fundiários necessários à criação não tem avançado no
estado.

O único local onde foram encontradas populações da Senna Bahiense, o Morro da Pioneira
é uma das áreas mais ricas em biodiversidade da Serra. Infelizmente, ela é constantemente
atingida por queimadas e não conta com as estruturas de prevenção e combate a incêndios
que são disponibilizadas para Unidades de Conservação. Além da proteção à
biodiversidade, os benefícios da conservação devem causar impactos positivos aos
municípios, com um importante potencial de exploração do turismo ecológico.

A manutenção da Mata Atlântica em pé garante também a continuidade de serviços
ambientais essenciais à população, como a provisão de água e polinização.
O professor Armando Nascimento Filho, morador de Castro Alves, defende providências
rápidas. “Acreditamos que a criação de unidades de conservação aqui é de extrema
importância e urgência para todas as comunidades do entorno da Serra, nos cinco
municípios. Para que elas vivam de maneira sustentável, preservando o patrimônio natural
que temos aqui, que tem grande importância ecológica e socioeconômica também. É uma
luta de muito tempo, tanto da sociedade civil organizada quanto das comunidades”. Neste
dia da Mata Atlântica um compromisso do Governo do Estado com a proteção da Serra da
Jiboia seria um belo presente para o bioma.

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