Como é o combate à espécie invasora que ameaça a Baía de Todos-os-Santos
Missão de pesquisadores busca estratégias para erradicar organismo nunca antes visto na região.
Com os termômetros na marca de 28°C, por volta das 8h, três embarcações deixam a costa de Salvador rumo à Ilha de Itaparica. Poderia ser um passeio de férias, mas não se engane. Uma missão contra um invasor que ameaça a Baía de Todos-os-Santos está em curso. E o relógio joga contra os combatentes.
Há cerca de um ano, a presença de um organismo estranho chamou atenção de pescadores de Itaparica. Eles chamaram as autoridades, que confirmaram a aparição de um coral nunca antes visto em águas baianas. Desde então, uma cruzada tem sido feita para erradicar a espécie invasora, que prejudica a biodiversidade local.
Trata-se de um octocoral de aparência flexível e carnosa, encontrado em tons avermelhados ou branco. Em alguns pontos próximos à costa da ilha, chegam a medir dois metros. Ele se reproduz rapidamente, de maneira assexuada ou sexuada, e tem nome difícil: Chromonephthea braziliensis. Apesar da nomenclatura, o coral não tem origem no Brasil e foi identificado pela primeira vez no Rio de Janeiro, na década de 1990. Agora, a espécie ameaça a maior baía do Brasil.
O octocoroal suprime a biodiversidade nativa, compete por espaço com outros seres e reduz a disponibilidade de alimentos para peixes que habitam os recifes. Sem predador, ele se espalha com facilidade. Pelo menos até agora. A força-tarefa inédita, que reúne pesquisadores, órgãos estaduais e federais, além de voluntários, monitora e testa métodos diferentes de extermínio.
Na manhã de quarta-feira (8), a reportagem do CORREIO acompanhou uma das missões de combate ao invasor. Os pesquisadores mergulharam próximo ao Forte de São Lourenço, na Ilha de Itaparica, para analisar como o octocoral se comportou após diferentes testes.
“O que estamos tentando descobrir com esse experimento é a melhor estratégia de remoção, para que a espécie não nasça de novo e não seja ainda mais espalhada”, explicou Tiago Porto, superintendente da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia (Sema). Ao todo, 15 pilares da Marinha de Itaparica, onde os corais se acumulam, são utilizados no experimento.
Em um deles, foi realizada a retirada manual do invasor. Nos outros, os pesquisadores observam como o coral reage ao contato com materiais distintos: sal azedo (ácido oxálico), água doce e vinagre. Os pesquisadores arrancaram parte dos corais, que ficam presos às estruturas artificiais ou naturais, durante a operação.
Fora da água, o octocoral não sobrevive. O organismo de aparência estranha chamou atenção de banhistas, que acompanharam surpresos a açãos dos mergulhadores. Ao serem tocados, os corais soltam uma espécie de líquido com consistência de gosma.
Descoberta
A missão desta quarta-feira (8) aconteceu duas semanas após o início dos testes. Durante o mergulho, os pesquisadores observaram que os corais retirados manualmente não voltaram a atacar um dos pilares. A resposta também foi positiva nos corais que foram submetidos ao sal azedo, material corrosivo.
Octocoral se espalha com rapidez na Baía de Todos-os-Santos Crédito: Matheus Landim/GOVBA
“O tratamento com sal azedo e a raspagem manual se mostraram mais efetivos. A pilastra onde os corais foram retirados continua limpa, e os que receberam sal azedo estão soltando da pilastra e morrendo”, disse a bióloga Tatiane Silva Aguiar, especialista em bioinvasão. Uma nova checagem nos próximos dias deverá confirmar a análise realizada hoje.
Inicialmente, os corais foram identificados nos pilares da Marinha, na praia conhecida como Píer do Vapor, em postes de navegação e em um recife próximo à Ilha do Medo, na Baía de Todos-os-Santos. Segundo pescadores da Ilha, nem o Ariadne Pandellis, navio que afundou na região em 1936, escapou da colonização do octocoral.
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