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Com doença extinta no Brasil, vibrião da cólera em lagoa de Feira de Santana preocupa autoridades

O prefeito destacou que diversos órgãos irão acompanhar o caso e verificar de onde partiu a contaminação pelo vibrião.

A prefeitura municipal de Feira de Santana interditou, na manhã desta sexta-feira (17), a Lagoa do Geladinho, situada no Parque Radialista Erivaldo Cerqueira, no bairro Baraúnas, em Feira de Santana. A interdição foi acompanhada por técnicos da Vigilância Sanitária (Divisa), Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria de Meio Ambiente, vereadores, e o Núcleo Regional de Saúde (NRS).

O motivo da interdição foi a descoberta da presença do vibrião colérico, bactéria causadora da cólera, nas águas da lagoa e possível contaminação dos peixes que habitam o local. Em humanos, a doença provoca diarréia, febre, mal estar, vômito, podendo levar a uma desidratação rápida do paciente e até mesmo a morte.

No Brasil, a última epidemia de cólera ocorreu 1991, provocando mais de 2 mil mortes até 2004, sobretudo nas regiões Norte e do Nordeste. Em 2005, cinco casos foram registrados em Pernambuco. E em 2006, três casos importados foram notificados.

Diante da preocupação de que a bactéria contamine a população feirense, o prefeito Colbert Martins determinou a interdição da lagoa e orientou que nenhum peixe seja pescado do local. Ele explicou ainda o que motivou o pedido de análise da água.

“Há uns 20 a 30 dias houve uma grande mortandade de peixes em várias áreas de Feira de Santana, e a Vigilância Sanitária do município buscou identificar aonde esses peixes tinham morrido e as causas. Com o Lacen (Laboratório Central) foram coletadas águas e uma espécie de peixe para ser feita a análise. Ontem recebemos a informação e o laudo de que existe o vibrião colérico na água desta lagoa. Nas outras coletas, não temos informação.”

O prefeito Colbert Martins, que também é médico infectologista, ressaltou que em caso de contaminação por humanos, a bactéria pode se disseminar rapidamente, causando uma grande epidemia.

“O vibrião colérico causa a cólera, que está extinta no Brasil. Um só caso de cólera é razão para causar uma epidemia e tem que ter o conhecimento de órgãos, como a Organização Mundial da Saúde e outros. Portanto, a importância de nós pedirmos a divulgação de todos vocês de que essa água não poderá ser utilizada, como já não é normalmente feito, nem para a pesca. Às vezes acontece aqui à noite a invasão dessa área do parque e pessoas pescam. Quem pescar e consumir qualquer tipo de espécie dessa lagoa pode adquirir também a cólera, que se manifesta através de uma diarreia fortíssima, que por mais rapidez que se tenha para internar e reidratar a pessoa, os casos de mortes são freqüentes”, argumentou.

O prefeito destacou que diversos órgãos irão acompanhar o caso e verificar de onde partiu a contaminação pelo vibrião.

“A contaminação é feita por fezes, e provavelmente deve ter alguma ligação com essa lagoa de drenagem urbana, onde alguém colocou esgoto para que esse tipo de vibrião pudesse ser detectado aqui. Estamos aqui também com o pessoal do NRS, entrei em contato com Edy Gomes, diretor do Núcleo, ontem entrei em contato com o subsecretário de saúde do estado Paulo e com o secretário Angelo Almeida, para confirmar a existência do laudo e a responsabilidade do laudo, que tem que ter uma prova e uma contraprova. A prova é feita no Lacen da Bahia e a contraprova vai para a Fiocruz, são dois laboratórios diferentes, devido à responsabilidade de atestar a presença de um vibrião desse tipo, que tem um aspecto de influência no mundo todo, por causa da doença que é extremamente contagiosa, e é necessário que tomemos todos os cuidados. Então o que estamos fazendo neste momento é divulgando para toda a nossa cidade, principalmente para as Baraúnas, que está interditada a lagoa, proibida a pesca, pois o peixe estando contaminado pode transmitir para a pessoa que o consumir, e se desenvolver a cólera a chance de perder a vida é grande, mas o mais grave é que o vibrião é altamente transmissível.”

Em entrevista ao Acorda Cidade, a chefe interina da Vigilância Sanitária, Cristina Rosa, acrescentou que, em caso de contaminação de humanos, a bactéria da cólera tem um tratamento específico com antibióticos e reposição de líquidos nos pacientes.

“Essas bactérias entram muitas vezes pela boca, você se contamina em contato com as fezes contaminadas com a bactéria. O meio estomacal tem o ácido clorídrico, mas quando a quantidade é grande, que desce e vai para o intestino, prolifera mais ainda, e em torno de 2 ou 3 dias você tem a diarréia.”

O coordenador-geral do NRS, Edy Gomes, destacou que está à disposição do município para prestar toda a assistência e esclarecimento que for necessário.

“A cólera é uma doença de interesse internacional, e o estado não poderia estar isento disso, dando o apoio e as orientações que se fizerem necessárias ao município, que tem técnicos extremamente competentes e capacitados, mas estamos de sobreaviso para dar qualquer orientação. É um trabalho conjunto do Núcleo Regional de Saúde, através das Vigilâncias Epidemiológicas do estado e do município, em uma força-tarefa de orientações que se fizerem necessárias. É uma doença grave e que tem uma capacidade absurda de disseminação e contaminação por parte das pessoas.”

Conforme o diretor do Departamento de Educação Ambiental da Semman, João Dias, que é pescador e com formação em psicultura (criação de peixes), a bactéria da cólera pode contaminar os humanos através do consumo de peixes infectados e mal cozidos.

Ele ressaltou ainda que no ano passado, na Semana Santa, houve uma grande pesca solidária na Lagoa do Geladinho, em que instituições de caridade de Feira de Santana foram beneficiadas com a doação dos peixes pescados no local, porém naquele momento não havia indício da presença do vibrião, e portanto não houve nenhum risco à saúde.

“O vibrião colérico contamina o peixe através de sua toxina, mas o peixe só contamina pessoas, vou deixar bem claro, se o consumirem cru ou mal cozido. Se o peixe for bem cozido, bem frito, a bactéria morre. Então não há nenhum risco. E outra coisa é que se houvesse problema de contaminação na última pesca solidária, nós teríamos sabido, porque a lagoa tem análise prévia e não havia contaminação. Ela foi detectada agora com a coleta feita pela Secretaria de Saúde, e os órgãos que trabalham, que levaram para o Lacen, isso foi a partir de agora”, ressaltou.

João Dias informou que haverá uma reunião com todos os órgãos responsáveis na Secretaria de Saúde, e será produzido um documento sobre a situação.

“Vamos produzir um documento, orientando o poder público municipal sobre como proceder para garantir a segurança das pessoas que frequentam o parque. Eu consultei alguns cientistas da área, que são professores doutores, trabalham com microbiologia e infectologia, e eles disseram que existe o risco, mas essa situação vai ser esclarecida na reunião, onde vão participar professores da Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana), da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Baiano), da Vigilância Sanitária, da Secretaria de Saúde e do Meio Ambiente. Nenhuma possibilidade pode ser descartada, porque o objetivo do prefeito é proteger a população. Vamos avaliar a situação para depois tomar uma decisão final”, disse.

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Acorda Cidade/Foto: Secom

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