Especialistas alertam para os riscos do agravamento da doença.
Os casos de dengue grave na Bahia nos três primeiros meses deste ano já correspondem a mais da metade (55%) de todos os registros da doença no ano passado. Até a segunda-feira (27), 185 formas graves haviam sido diagnosticadas, enquanto que em todo o ano de 2022 foram 337. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). O crescimento acelerado do número de implicações acende o alerta para o surto da doença, especialmente entre os meses de março e abril, quando ocorre o pico de transmissão do mosquito Aedes aegypti.
A denominação “dengue hemorrágica” para tratar a forma mais grave da doença entrou no vocabulário brasileiro, mas especialistas alertam que devemos ter cuidado com o termo. Nem todo quadro grave de dengue causa alterações na coagulação sanguínea. Na prática, a doença pode ser letal para um paciente mesmo que o quadro não seja considerado hemorrágico.
O que diferencia a dengue “clássica”, que tem duração de cinco a sete dias, das complicações causadas pela forma grave é a resposta de defesa do organismo. Pacientes que já tiveram um dos quatro tipos têm mais chances de complicações em casos futuros. Uma nova vacina para a doença foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não há previsão de quando estará disponível.
“O vírus estimula o sistema imunológico a produzir interleucinas, que são substâncias que alteram a parede vascular dos vasos sanguíneos. Quanto mais intensa a produção, maior a chance de quadros mais graves”, explica a infectologista Áurea Paste. Em casos graves, o paciente é internado para receber hidratação venosa e medicamentos.
O último boletim de arboviroses (doenças virais transmitidas por mosquitos) divulgado pela Sesab aponta que o coeficiente de incidência (CI) de dengue na Bahia é de 55,9 casos a cada 100 mil habitantes. O número é o maior dos últimos cinco anos para este período e representa um aumento de 59% em relação ao ano passado.
Embora a notificação de casos seja compulsória, a Sesab não divulgou o número de casos de dengue do primeiro trimestre dos três últimos anos pedidos pela reportagem. A secretaria só informou os registros totais de casos em 2022, 2021 e 2020. A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) também não divulgou o número de casos da doença.
Neste mês, o colégio Montessoriano, em Salvador, enviou um comunicado aos pais e responsáveis depois que um aluno desenvolveu a forma mais grave da doença. No documento, a escola alerta sobre o aumento do número de casos e lembra os cuidados para evitar a transmissão do Aedes aegypti. A reportagem entrou em contato com a direção pedagógica da instituição, que não comentou o assunto.
O surto de dengue não é exclusividade da Bahia. Os casos aumentaram 53% no Brasil entre janeiro e março, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Mais de 53 mil casos prováveis foram registrados apenas neste ano. No último domingo (26), foi ao ar no Domingão com o Huck um programa com paulista Jhonathan Wiliantan da Silva, que faleceu dias após a gravação vítima de dengue grave.
Sintomas
Até o terceiro dia de sintomas, é difícil identificar se a dengue será clássica ou se o quadro de saúde vai evoluir para a forma grave da doença. Nos dois casos, as manifestações iniciais são dor de cabeça e nos olhos, cansaço, dores musculares e náuseas. Por isso, é importante que o paciente seja acompanhado por uma equipe médica atenta a mudanças nos desdobramentos da doença.
“O agravamento costuma ocorrer entre o terceiro e sétimo dia, com sinais como tontura, sonolência, desmaio e dor na barriga. Em alguns casos pode ocorrer sangramento gengival, fezes escurecidas ou vômitos com sangue”, explica Viviane Boaventura, pesquisadora da Fiocruz-Bahia e professora da Faculdade de Medicina da Ufba.
Em casos muito graves, ocorre queda ou ausência de pressão arterial, episódio conhecido como “choque”. Segundo a pesquisadora Viviane Boaventura, idosos acima de 70 anos e crianças devem receber atenção especial, mas todos os pacientes devem observar os sinais de agravamento.
No caso de Ailma Monique Barreto, de 24 anos, os médicos não foram capazes de identificar a gravidade da doença nos primeiros sinais. A jovem precisou ir à emergência do hospital duas vezes até que fosse internada por uma semana. Apesar de não ter tido sangramentos, Ailma teve plaquetopenia – diminuição do número de plaquetas no sangue.
“Tive muita febre e dor nas articulações, mas os médicos não diagnosticaram a dengue no início. No segundo dia, senti dores tão fortes que não conseguia nem andar direito, foi quando apareceram as manchas vermelhas embaixo dos olhos”, relembra a estudante. O caso ocorreu em 2015.
Estoque de inseticidas de combate ao mosquito segue em baixa na Bahia
Mesmo após a divulgação, pelo jornal CORREIO, de que apenas 43 litros de inseticidas usados no combate ao mosquito estavam disponíveis na Bahia, o estoque central do produto continua baixo. Apesar de não ter dado detalhes, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) admitiu o problema e afirmou que os Núcleos Regionais de Saúde possuem aproximadamente dois mil litros. Os núcleos recebem os insumos do estoque central.
A falta do inseticida se deve à ausência do Imidacloprida + Praletrina, as substâncias usadas nos carros de ‘fumacê’ em áreas com alta incidência de casos de dengue. A última remessa ocorreu em julho de 2022 pelo Ministério da Saúde, que não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre quando será feita uma nova remessa. A Sesab reforça ainda que o produto representa a última linha de combate ao mosquito.
Para conter a disseminação acelerada do mosquito e agravamento da condição sanitária, é preciso manter os cuidados básicos. O principal é evitar recipientes com água parada, local de proliferação do Aedes aegypti. Por isso, especialistas indicam que semanalmente pontos da casa sejam revisados como lixeiras, vasos sanitários e vasilhas para animais.
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Correio/Foto: SMS/Divulgação