Esportes

Baiano de 12 anos é sucesso no crossfit e já conseguiu levantar 92 kg; conheça a história dele

Cauzinho entrou no crossfit aos 11 anos de idade; os pais dele também praticam o esporte.

Aos 11 anos, uma coincidência fez Carlos Augusto Pitanga Filho, o Cauzinho, se apaixonar pelo crossfit. Numa tarde de julho de 2021, o pai do menino, que também se chama Carlos Augusto Pitanga e é praticante do esporte há anos, precisou levar o filho para a academia para não deixá-lo sozinho em casa. Lá, Cauzinho, que já praticava corrida e futsal, pediu para fazer uma aula experimental.

“Ele fez essa aula lá no cross, dois dias. Como era bem dinâmico, com flexão e corrida, Cauzinho, que já corria, teve o melhor tempo da academia toda. Ele já praticava esporte, jogava futebol, fazia futsal. Se destacou bastante por causa do condicionamento físico que ele já tinha. Foi por isso que ele se destacou, porque já eram exercícios que ele fazia. Ele já tinha uma boa coordenação motora”, relembrou Carlos Augusto.

Ele amou, quis voltar, e voltou. Meses depois, em dezembro, nas férias escolares, os pais decidiram matriculá-lo no crossfit para “ocupar a mente dele durante as férias” e, quando a escola retornasse, ele sairia de novo. As aulas voltaram e, surpresa: ele não quis mais sair. “Ele começou até a fazer exercício que eu não fazia. Aí, começou a brincadeira na academia: ‘Ah, seu filho já está passando você’. Nessa brincadeira, pronto, ele não queria mais sair do cross. Começou aquela dinâmica, o ‘querer’ estar lá, né”, contou o pai.

Segundo Cauzinho, o que mais o interessou na prática foi justamente essa dinâmica dos treinos, que é diferente a cada dia. Aos oito anos de idade, ele já conseguia correr 10 km – por isso, os exercícios do crossfit, considerados pesados por muitos, não o assustaram ou desestimularam. “Na verdade, eu não tinha intenção nenhuma de fazer crossfit, meu negócio era correr. Mas, gostei da dinâmica do cross. Me apaixonei. Antes de praticar o crossfit, eu fazia judô e capoeira, só que eu era muito pequeno. Aí, quando cresci um pouco mais, fui para um colégio maior e pratiquei futsal e corrida”, disse o menino.

Hoje, pouco mais de um ano depois de começar nessa modalidade, Cauzinho já bateu vários recordes pessoais e conseguiu a façanha de levantar 92 kg, quase o triplo de seu peso, em uma aula. O destaque no meio é tanto que, com apenas dois meses de prática, no início de 2022, ele foi convidado pela Federação Baiana de LPO, ligada ao levantamento de peso, para participar do Campeonato Baiano. Ainda este ano, ele também vai estar no América Crime, em Maceió, e no Monstar Games, em Goiânia.

SAÚDE

Hoje, Cauzinho tem 269 mil seguidores no Instagram, rede que usa para mostrar sua rotina de treinos. Por lá, além de incentivos e elogios, já recebeu algumas críticas e mensagens de preocupação sobre a sua saúde e crescimento. “Cauzinho tem uma equipe multidisciplinar que o acompanha, formada por um educador físico, médico, fisioterapeuta, nutricionista e dentista. Ele não está sozinho nessa ‘onda’. Ele gosta de fazer. Ele largou o futebol, que era o esporte dele, por causa do crossfit”, contou Carlos Augusto.

Entre as preocupações de quem já viu alguma foto ou vídeo do garoto, que, aos 12 anos, já tem músculos definidos, está o crescimento. Por isso, para evitar que ele tenha déficit calórico, ou seja, queime mais colorias do que consome, ter um bom e constante acompanhamento nutricional é tão importante.

“Se deixar ele em déficit calórico, aí que vem a questão de atrapalhar o crescimento. Cauzinho entrou no crossfit com 1,34 m. Hoje, está com 1,47, com 1 ano e 4 meses no cross. A gente está sempre acompanhando, orientando, levando para fazer exame de sangue, de rotina, para ver como está, se está precisando de alguma suplementação. A nutricionista dele tem todo o cuidado e carinho por ele. Depois do educador físico, ela foi a primeira a acompanhá-lo”, detalhou Carlos Augusto.

No dia a dia, Cauzinho come, em média, oito refeições por dia

A nutricionista de Cauzinho, Luana Vilas Bôas, destacou que a gente gasta calorias o tempo inteiro, nas atividades mais básicas do dia a dia: dormir, acordar, levantar, escovar os dentes, e por aí vai. Na infância e adolescência, porém, esse gasto é ainda maior.

“Essa fase de crescimento, desenvolvimento, tem uma demanda calórica alta, e o próprio treinamento [exercícios físicos] também demanda um gasto, que é elevado. Então, as complicações metabólicas que podem surgir estão muito mais associadas a essa fase da vida quando existe uma carência, seja ela de caloria ou de vitaminas e minerais”, afirmou.

Para que nada de errado aconteça, a alimentação de Cauzinho é regulada. Nos dias normais, como conta Carlos, o menino come oito refeições por dia. Quando vai participar de algum campeonato, esse número cresce: “Entre nove e dez refeições”. Para se alimentar na escola, ele leva lanche de casa, o que já virou até uma brincadeira entre o menino e os colegas, como comentou o pai: “Os colegas brincam: ‘O lanche de Carlinhos ninguém quer’. ‘Que é isso aí, Cauzinho? Sanduíche de cenoura?’”,

Uma vez por semana, o pequeno crossfiteiro tira para comer o que der vontade, sem restrições, evitando só refrigerante, doces e frituras, que não gosta muito. Nesses dias específicos, geralmente no final de semana, ele come hambúrguer, açaí, feijoada, dobradinha, moqueca de camarão e polvo, lasanha, pizza, e por aí vai.

Uma vez por semana, o pequeno crossfiteiro tira para comer o que der vontade, sem restrições

E, assim como a alimentação, para dar conta de tudo, a rotina de Cauzinho também é regrada: todos os dias, ele, que estuda pela manhã, acorda às 5h15 e, às 5h30, já está na rua, correndo, e faz entre 5km e 6km. Na sequência, faz cerca de 700 abdominais. Depois, volta para casa, toma um café da manhã e vai para a escola. Quando está na academia, como disse Carlos Augusto, o menino faz um treino específico para ele.

“Durmo mais cedo e acordo mais cedo. Aí, depois do treino, vou para a escola, estudo, volto meio-dia, aí vou almoçar. Estudo e vou para o treino. Depois, estudo mais um pouco, como, e aí eu vou dormir. Mas, sempre dou prioridade aos estudos. Por exemplo, se eu tiver uma prova muito difícil, deixo o treino de lado e vou estudar”, contou. Aos sábados, também tem um aulão “mais puxado” de crossfit, em que ele testa as suas habilidades com os professores.

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O menino é acompanhado por uma equipe multidisciplinar formada por médico, educador físico, nutricionista, fisioterapeuta e dentista

CROSSFIT KIDS

Para entender mais sobre esse universo – ainda não muito explorado – do “crossfit kids”, o Aratu On conversou com o profissional de educação física Caio Rodrigo, que explicou que, aos nove anos de idade, uma criança já pode começar na modalidade:

“A partir de 9 anos, os músculos dessas crianças já estão um pouco mais desenvolvidos, então, já dá para ganhar um pouco mais de força com os trabalhos de resistência. No crossfit, esses trabalhos são funcionais: agachamento, correr, saltar, puxar, empurrar. A partir dos 13 anos, por exemplo, essas crianças já podem trabalhar com um pouquinho mais de carga, porém, precisam ser adequadas à estrutura corporal delas. Acho extremamente necessário ter um profissional atento a essas questões se for começar a trabalhar com sobrecarga. Não há prejuízos se a criança for bem orientada”.

Para crianças menores, o recomendado é fazer outros tipos de atividade, como futebol ou natação, por exemplo.

O educador físico Victor Lemos, que trabalha com os pequenos, também ressaltou a importância de fugir do sedentarismo ainda na infância, mas lembrou que respeitar os limites e desejos de cada aluno é essencial.

“A princípio, não existe exercício proibido, tampouco um melhor do que o outro. O que há é uma distinta predisposição de cada criança para determinadas modalidades, seja por aptidão física ou simplesmente interesse. O mais importante é estar inserido em alguma modalidade que não a deixe sedentária, mas, para cada indivíduo, deve haver uma avaliação individualizada e acompanhamento personalizado para diminuir os riscos de lesões. A palavra é equilíbrio. Com crianças, é mais delicado forçar a barra, portanto, devemos evitar exageros”.

Antes do crossfit, Cauzinho praticava corrida e futsal

Sobre praticar crossfit, classificado como uma atividade de alta intensidade e impacto tanto para adultos, quanto para crianças, Victor explicou que também depende de cada caso – mas que, talvez, não seja para todo mundo. “Podemos falar da seguinte maneira: há casos em que determinadas modalidades, como o crossfit, não são recomendadas. Todavia, nos demais casos em que não há restrições, o indicado é que haja o acompanhamento adequado por um profissional para que tudo ocorra de maneira mais segura”.

TEMPO DE SER CRIANÇA

Ao ver as fotos e conhecer melhor a rotina de Cauzinho, surgem uma constatação e uma pergunta: que ele é determinado, disciplinado e gosta do que faz, a gente já sabe. Mas, que horas Cauzinho, que ainda tem 12 anos, tira para ser criança?

O pai dele, Carlos Augusto, respondeu: “Ele brinca muito com os amigos dele aqui no condomínio e gosta muito de ir à praia. Quando os amigos vão ao shopping, ele também se amarra”. Nas horas de descanso, o menino também gosta de jogar online pelo celular.

Bruna Schwenck, que, aos 13 anos, também é destaque no crossfit, faz dupla com Cauzinho nas competições

Ter esse tempo livre, especialmente na infância, é essencial para o nosso bem-estar e saúde mental, como explica a psicóloga Sabrina Cardoso. “O brincar na fase do desenvolvimento infantil é o protagonista. As brincadeiras têm o poder de explorar o raciocínio lógico, desenvolver habilidades e competências na criança. Elas favorecem as expressões dos sentimentos e emoções, e a criatividade e fantasia são afloradas. É de suma importância que o brincar seja estimulado”.

Além de fazer atividades livres de regras ou pressão, há outra prática importantíssima para o nosso desenvolvimento como ser humano: não fazer nada. É isso mesmo: o ócio constrói. “Tanto o lazer como ócio tem uma grande importância na vida do sujeito. Entendo que cada indivíduo possui as suas crenças e peculiaridades. Partindo desse pensamento, é coerente afirmar que o lazer ou ócio não só contribuem para a diminuição do estresse ou outro sintoma, mas também auxilia na reflexão do autocuidado, principalmente na relação da saúde mental e as consequências físicas”.

Porém, como comenta a psicóloga, não há fórmula: cada um funciona de um jeito e se interessa por atividades diferentes. Se uma criança gosta e se dá bem com uma rotina mais cronometrada, não dá para afirmar que, necessariamente, isso vai trazer algum prejuízo para ela. “Uma reflexão: a criança gosta dessa rotina? Quando não é possível realizar a rotina definida e regulada, isso gera uma desorganização emocional na criança?”.

Com quase 270 mil seguidores nas redes sociais, também já dá para dizer que Cauzinho está caminhando para ser influenciador digital. E, provando ser mesmo um bom crossfiteiro, ele já tem até um objetivo com tudo isso: incentivar outras pessoas. “É muito bom, porque consigo motivar crianças e muitos adultos”.

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