Na última quinta-feira (20), na cidade de Amélia de Rodrigues, perto de Feira de Santana, 11 bovinos também foram roubados.
Os produtores rurais que trabalham com a pecuária, especificamente na criação de bovinos no interior da Bahia, estão perdendo o sono com roubos e furtos de gado ocorridos no estado ao longo de 2022. Em Uauá, na região Norte do estado, na terça-feira (25), a Polícia Militar prendeu um homem e apreendeu dois adolescentes com posse de 13 cabeças de gado, um caminhão e uma motocicleta que foram roubados de uma propriedade rural em Juazeiro.
De acordo com a PM, o grupo fez a família que estava na propriedade de refém e os torturou antes de levar o material que foi roubado. Na última quinta-feira (20), na cidade de Amélia de Rodrigues, perto de Feira de Santana, 11 bovinos também foram roubados. Os criminosos teriam invadido a fazenda, matado os animais e levado toda a carne. Segundo a polícia, depois da ação dos criminosos o proprietário chegou no local e encontrou apenas as vísceras dos animais espalhadas pelo chão.
Um tipo de crime que tem se tornado comum em outros pontos da Bahia. Só em setembro, no município São Gonçalo dos Campos, pelo menos três fazendeiros perderam cabeças de gado para bandidos que entraram nas propriedades durante a madrugada, mataram os animais e levaram a carne para vender.
Roberto da Silva Vanderlei, 50 anos, é produtor rural na região há mais de uma década e foi uma das vítimas. No meio do último mês, ele perdeu oito cabeças de gado em ação criminosa que resultou em um prejuízo acima de R$ 40 mil. “Na nossa região, foram roubadas três propriedades. Tudo da mesma forma, com eles chegando na madrugada, quebrando a cerca, sacrificando o gado e levando a carne, só deixam a cabeça. Na minha, foram oito. O prejuízo foi R$ 40 mil porque eram gados de 20 arrobas”, conta ele.
Na cotação atual, a arroba do boi gordo tem sido comercializada na Bahia por R$ 272,50 em transações à vista. Valor que explica o tamanho do prejuízo causado para Roberto e também para Júlio César Barreiros, 65, que foi outra vítima em São Gonçalo dos Campos, perdendo cinco cabeças de gado. “Eles chegaram umas 2h ou 3h da madrugada. Um conhecido até viu o carro parado e forrado com uma lona, mas ele achou que estava quebrado até porque não viu ninguém ao redor. Fiquei com o prejuízo total em torno de R$ 42 mil por conta disso”, conta ele.
Júlio César, Roberto e o outro produtor rural deram queixa dos furtos. Ninguém ainda foi preso, mas a Polícia Civil já apura o caso e abriu um inquérito por conta da situação. Enquanto não há uma solução e os suspeitos estão livres, Roberto diz que não tem como ter sossego. “Já procuramos a polícia e todas as autoridades para ter um apoio. Na realidade, é difícil lidar com isso porque ninguém vê e a gente fica sem saber se o gado vai estar lá de um dia para o outro. A gente, de certa forma, fica de mãos atadas”, fala.
Prática conhecida
Na ação, segundo os fazendeiros, os suspeitos tiram apenas a cabeça do boi para matá-lo e colocam todo o resto do corpo nos caminhões e carros que utilizam. Odair Nascimento, 47, é produtor rural nas imediações da cidade de Itororó, no sudoeste da Bahia. Ele conta que por lá é comum ver esse tipo de crime.
“Nunca aconteceu comigo, mas várias fazendas vizinhas tiveram esse problema. É sempre igual, eles vêm na madrugada e matam o gado no meio da manga. Quando você dá por falta, acha só a cabeça e o sangue do animal que eles mataram pra levar”, aponta ele, afirmando que os bandidos vendem as carnes para açougues.
Procurada pela reportagem para falar sobre os casos e questionada sobre os números de furtos de gado no estado em 2020 e 2021, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri) afirmou que o tema não tem relação com as atividades da pasta.
“A questão da segurança, em sua especificidade, cabe a outra secretaria de Estado, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia”, explica a Seagri por meio de nota. No entanto, a SSP-BA não respondeu até o fechamento desta matéria. Outro órgão acionado foi a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), que respondeu afirmando que só a Secretaria de Segurança tem esses dados.
Táticas de proteção
Para os produtores, enquanto os responsáveis ainda estão livres, estratégias de proteção precisam ser implementadas. Júlio César explica que, ao invés de deixar o gado em pastos mais distantes, a alternativa é colocá-lo o mais perto da sede durante a noite.
“Realmente, para se proteger, o jeito é colocar o rebanho no curral, se for possível. Você prende lá ou o mais próximo possível da sede para inibir a ação deles. É a melhor forma de se proteger já que não há segurança”, afirma ele, que é produtor rural há mais de 40 anos.
Além de aconselhar também o deslocamento do gado para áreas mais próximas onde podem ser melhor vigiados, Odair Nascimento fala que contratar um serviço de monitoramento é outra alternativa para lidar com o problema e evitar prejuízo.
“É muito difícil controlar porque não têm uma frequência e eles ficam mudando de região toda hora. Para quem pode, é importante colocar sistema de vigilância com câmeras para dar apoio aos vaqueiros, que não dão conta de fazer isso sozinho”, diz o produtor.
Para o consumidor, que precisa evitar a compra da carne comprada para não cometer crime de receptação e adquirir produto sem o protocolo adequado, a palavra de ordem é observação. É isso que orienta Rose Estrela, chefe de fiscalização da Coordenadoria de Proteção e Defesa do Consumidor (Codecon).
“O consumidor, quando chegar no mercado ou no açougue, pode observar a higiene do local, o condicionamento da carne e a aparência dela para garantir a qualidade. Para evitar carne roubada, pode tentar pedir a nota fiscal porque, se for clandestina, não vão querer dar”, indica Rose.
A Codecon faz a fiscalização dos locais de venda e checa as condições do espaço, mas só quem pode aprender as carnes é a Adab. Por isso, denúncias devem ser feitas para a associação de defesa.
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Correio/Foto: Divulgação/Ilustrativa