Negligência com vacina e abandono das máscaras faz aumentar ocupação de UTIs em Salvador
Antes dessa nova tendência de alta, a taxa de leitos ocupados oscilava entre 25% e 35%, mas começou a subir nos últimos dias.
A taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para tratar doentes de covid-19 voltou a subir em Salvador, preocupando as autoridades de saúde e colocando a prefeitura da capital em estado de alerta. Nesta segunda-feira (6), o dia encerrou com 40% das acomodações de UTI e quase metade dos leitos clínicos disponíveis (47%) ocupados.
Antes dessa nova tendência de alta, a taxa de leitos ocupados oscilava entre 25% e 35%, mas começou a subir nos últimos dias. E essa não é a única preocupação. O Fator RT, índice que mede a capacidade de transmissão da covid-19 de pessoa para pessoa, também está aumentando na cidade. O percentual, que já foi de 0,67, subiu para 0,8, e, agora, já está em 0,95. Quando fica acima de 1 significa uma aceleração da pandemia.
Nesta segunda, durante a inauguração de uma Unidade de Acolhimento Institucional, no bairro do Matatu, o prefeito Bruno Reis comentou a situação. Ele disse que ainda não quer voltar a adotar medidas de isolamento social e que está focado na retomada econômica da cidade, mas afirmou que não descarta ações mais duras para frear os números.
“Por enquanto, estou só pedindo, apelando, mas não descarto adotar medidas para induzir as pessoas a se vacinarem. O presidente da Câmara aprovou um projeto de lei que obriga os servidores a se vacinarem e eu posso sancionar esse projeto. Eu espero que as pessoas tenham consciência e responsabilidade. Da mesma forma posso adotar medidas para exigir o cartão de vacinação em dia para entrar nos lugares”, disse Bruno Reis.
A cidade teve hospitais de campanha desmobilizados e o número de leitos foi reduzido após a queda expressiva nas internações no segundo semestre deste ano. Por isso, o crescimento de casos tem preocupado. O município ainda não fez um levantamento do perfil dos pacientes que estão sendo internados, mas frisou que a vacinação e as medidas de proteção ainda são a melhor arma contra o vírus.
Motivos para o aumento
Dois motivos são apontados pelo secretário municipal de Saúde, Léo Prates, para o aumento da taxa de ocupação dos leitos. O primeiro é o abandono do uso da máscara, cada vez menos frequente nos rostos dos moradores da maioria dos bairros de Salvador. A segunda razão é a negligência com a vacinação. Até a sexta-feira (04), dados mais atualizados da SMS, eram 222 mil pessoas atrasadas com a 2ª dose, 130 mil sem a dose de reforço e 52 mil que sequer tomaram a 1ª.
“O aumento de casos não surpreende, já era esperado, porque a cada seis meses após a flexibilização das medidas de isolamento existe uma elevação, mas é uma situação que exige cuidado e alerta. E sempre que os números da pandemia reduzem, as pessoas relaxam e eles voltam a subir. A taxa de ocupação dos leitos e o Fator RT são os dados que mais preocupam. Os demais estão sob controle, mas não podemos relaxar”, afirmou.
Segundo o secretário, o cenário pode se transformar em preocupante caso a ocupação alcance 60%. “Além desses dois fatores, precisamos ampliar o público alvo da vacinação. Outros países, como Chile e Estados Unidos já começaram a vacinar crianças menores de 12 anos. O Brasil precisa fazer o mesmo”, contou.
Procurada, a Anvisa respondeu que até o momento o único fabricante que solicitou avaliação para incluir o público menor de 12 anos na bula da vacina contra a covid foi a Pfizer. “O pedido entrou na Anvisa no dia 12 de novembro e está dentro do prazo de 30 dias previsto para este tipo de análise. A Anvisa solicitou algumas informações adicionais à Pfizer a partir da identificação de dados que são necessários para o processo. Este pedido de complementação é chamado de ‘exigência’ e o período que o laboratório utiliza para responder a ‘exigência’ não conta no prazo de análise da Anvisa”, diz o órgão, em nota.
Cenário
O movimento na porta das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em Salvador também começa a chamar a atenção das autoridades. Nesta segunda (06), o pedreiro Luan Araújo, 35 anos, passou o dia no gripário dos Barris.
“Estou com febre e dores de cabeça. Estive primeiro no posto de Periperi, mas eles só estavam atendendo casos graves. Fui para o da San Martim. A mesma coisa. Então, vim para o dos Barris. Peguei a ficha 35, às 8h, e fui atendido quase 16h. O movimento de pacientes está grande”, contou.
Em Salvador, 7.663 pessoas perderam a vida para o coronavírus. Neste fim de semana, as equipes do município realizaram testes para covid-19 no aeroporto. Foram 117 procedimentos e um caso positivo. Nesta segunda, outros 48 testes foram realizados sem casos confirmados. A partir desta terça-feira (07), começa a temporada de cruzeiros na cidade.
Na Bahia, o número de casos confirmados passa de 1,2 milhão e são 27 mil óbitos. A taxa de ocupação dos leitos de UTI está em 39% e de enfermaria em 26%. Já os leitos pediátricos estão em 69% e 67%, respectivamente.
Carnaval
A realização do Carnaval 2022 segue sem decisão. Nesta segunda, o prefeito e o governador comentaram o assunto. Bruno Reis disse, durante entrevista coletiva, que aguarda os estudos sobre a variante ômicron para decidir sobre a festa. Ele voltou a dizer que se fosse definir agora, a folia não seria realizada.
“O final de novembro coincidiu com a chegada de uma nova variante e aumento expressivo de casos na Europa. Se tivesse que decidir nesse momento, era pela não realização [do Carnaval]. Estamos aguardando as conclusões finais sobre a variante ômicron para tomar essa decisão”.
O prefeito disse também que depende de uma conversa com o governador Rui Costa para bater o martelo, mas que o cenário atual não permite tomar uma decisão. Nas redes sociais, Rui também falou que não vai se precipitar sobre o assunto.
“Sei da ansiedade dos empresários do Carnaval por uma definição sobre a realização da festa. É uma atividade importante, mas a prioridade é a saúde dos baianos. Não vou decidir de forma antecipada sobre a realização ou não do Carnaval”, escreveu.
O governador também alertou para os índices da pandemia, que deixaram de cair. “Há quase 90 dias não cai o número de leitos de UTI nem o número de contaminados na Bahia. A decisão de autorizar ou não a festa será anunciada quando nos sentirmos seguros”, finalizou.
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Correio 24 horas /Foto: Paula Frões/Correio