Igreja de Nossa Senhora dos Alagados clama por revitalização
Templo erguido há 40 anos, em tempo recorde, é o único a receber três santos: Dulce dos Pobres, Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II
Inaugurada em julho de 1980, durante a gestão de Mário Kertész à frente da prefeitura de Salvador, a Igreja de Nossa Senhora dos Alagados foi erguida em apenas três meses, especialmente para receber o Papa João Paulo II em sua visita à capital. Projeto de João Filgueiras Lima, o Lelé, o templo congrega o melhor da arquitetura moderna e ricos simbolismos cristãos: fachada em tijolos expostos; forma quadrada, para remeter à cidade de Nova Jerusalém; teto formado por 144 formas, que correspondem aos 144 mil servos do Senhor; etc. “Sem falar na imagem da santa, que é única no mundo”, diz Hilda dos Santos, gestora da pastoral do turismo da paróquia, referindo-se à escultura feita pelo artista Manoel Dantas e inspirada nas mulheres dos Alagados, ali representadas em seu costume de carregar os filhos do lado da anca e um balde d’água na cabeça.
Porém, embora reúna tantas características importantes, a colina sagrada dos Alagados enfrenta dificuldades para sua revitalização. “Nossa esperança agora é a inclusão na revitalização da Cidade Baixa anunciada pela prefeitura”, reforça Hilda. E completa: “Trata-se de uma comunidade de excluídos, por isso Dom Avelar nos escolheu para receber São João Paulo II à época. Ou seja, deixar Alagados de fora do programa é uma segunda exclusão. Além de não fazer sentido do ponto de vista do turismo religioso, pois somos um território sagrado”.
De fato, a paróquia é a única a receber três santos: Santa Dulce dos Pobres, Madre Teresa de Calcutá e o já citado João Paulo II, a quem passou a ser dedicada desde 2014. “Foi uma decisão recorde, tomada imediatamente após a canonização”, lembra Hilda. Defronte, porém, para a não menos sagrada colina do Bonfim, a dos Alagados, onde Madre Teresa fundou a Creche das Irmãs Missionárias da Caridade, não vive um de seus melhores momentos e conta com a caridade de baianos e estrangeiros.
Para não ficar de fora do “Plano Para o Conjunto de Bairros de Itapagipe”, da Fundação Mário Leal Ferreira, a paróquia, sob a liderança do Padre Walter, lançou mão inclusive das redes sociais. Um vídeo explica em menos de 60 segundos como o cidadão pode preencher o formulário da campanha e ajudar a incluir a colina no programa de revitalização municipal.
“Eu achei ótima ideia. Temos que saber usar as ferramentas do momento para buscar nosso próprio bem. E não podemos esquecer que nossa igreja já nasceu moderna”, reflete Anderson Bispo, 32, morador do Uruguai e devoto de Nossa Senhora dos Alagados. O perfil da paróquia no Instagram é @pascomalagados e, além da campanha, é usado também para, oportunamente, transmitir missas e conversas durante a pandemia de coronavírus.
“A última reforma executada aqui foi ainda no governo de Antônio Carlos Magalhães”, lembra Hilda dos Santos. Local de valor histórico para a cidade, seja do ponto de vista religioso, social ou turístico, a colina, no entanto, não tem escritura formalizada. “O terreno ainda está em nome da Mesbla”, explica a gestora. Arquiteto, o paulistano Rodrigo Agostini, mesmo não sendo religioso, não perde ocasião de visitar a igreja sempre que vem a Salvador. Fascinado pelo projeto de Lelé, ele declara: “Eu espero, de qualquer forma, que aquele ponto mágico, símbolo de uma arquitetura ousada e compreensiva em relação ao tempo e ao lugar, encontre bom rumo das mãos da comunidade e também dos poderes públicos”.
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Metro1/ Foto : Tácio Moreira