Livro mostra como cidades baianas atuam para melhorar o ensino público municipal
Instituto Positivo lança segundo livro gratuito sobre cooperação intermunicipal para melhoria da Educação regional; “Arranjos de Desenvolvimento da Educação” dá destaque para Agreste Litoral, que teve como inspiração a vizinha Chapada Diamantina; e investe na melhoria dos indicadores de aprendizado do seus estudantes.
O Instituto Positivo – braço social de um dos maiores grupos educacionais do Brasil – lança o segundo livro sobre Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs), um mecanismo de cooperação adotado por alguns municípios e que tem se mostrado viável e efetivo na busca de melhorias no ensino público. No livro Arranjos de Desenvolvimento da Educação: o que podemos aprender com as suas trajetórias?, os autores apresentam exemplos de como a organização pública intermunicipal permite que profissionais de diferentes redes de ensino de uma mesma região trabalhem juntos para reduzir as desigualdades na aprendizagem e fortalecer as gestões administrativas e pedagógicas, visando melhorar a qualidade do ensino ofertado para crianças e jovens.
Inspirado no primeiro ADE implantado no Brasil na Chapada Diamantina e região, em 2000, o ADE Agreste Litoral foi implantado ali, pertinho, a partir do investimento da iniciativa privada. E como a região vizinha, conta também com a tecnologia educacional do ICEP (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa), que é o responsável por toda a articulação das secretarias e pela governança do ADE. O ADE Agreste Litoral tem como propósito a melhoria dos indicadores de aprendizado do território e o apoio na implementação de uma política de formação continuada das redes municipais. A rede é composta por 10 municípios: Alagoinhas, Aramari, Araçás, Acajutiba, Cardeal da Silva, Conde, Entre Rios, Esplanada, Inhambupe e Santo Estêvão.
O conceito de ADE foi definido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2012, embora o Regime de Colaboração já esteja presente na Constituição. Com os excelentes resultados alcançados nas regiões onde foram implantados (atualmente são 15 Arranjos no país), percebe-se a necessidade de discutir mais sobre o tema. “O Instituto Positivo já havia lançado um primeiro livro sobre ADEs em 2017, que abordou o conceito e apresentou um panorama das iniciativas em atividade naquela época”, conta Eliziane Gorniak, diretora do Instituto Positivo.
Em 2020, o Instituto Positivo lançou um guia prático para implantação e gestão de ADEs. “Hoje, passados seis anos desde a primeira publicação, entendemos que estava na hora de trazer novidades sobre os aspectos de regulamentação desse modelo de regime de colaboração. Para isso, a nova obra contou com a participação de quatro pesquisadores que são referência na temática da cooperação intermunicipal”, conta. “Pela experiência que têm no tema, os autores escolhidos agregam confiabilidade à obra”, justifica.
A trajetória dos ADEs
Os pesquisadores são unânimes em dizer que, embora os Arranjos ainda estejam em fase de amadurecimento, já apresentam exemplos bem-sucedidos em duas décadas de atuação. Desde a origem, na Chapada Diamantina e região (BA) em 2000, onde 12 municípios se uniram, os ADEs têm contribuído para a redução das desigualdades educacionais. “O modelo busca articular entidades sociais, como universidades e, sobretudo, organizações do Terceiro Setor, para fornecer conhecimentos e apoio que nem sempre estão disponíveis nos governos locais”, destaca Fernando Luiz Abrucio, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), mestre e doutor em Ciência Política pela USP e um dos autores do livro “Arranjos de Desenvolvimento da Educação: o que podemos aprender com suas trajetórias?”.
Mais de 200 municípios organizados
Atualmente, existem 15 Arranjos em atividade no Brasil, com 225 municípios trabalhando de forma colaborativa e mais de 414 mil crianças na Educação Básica alcançadas pelo trabalho cooperativo. O livro traz uma análise quantitativa e qualitativa dos ADEs já implantados e consolidados, selecionando indicadores para entender o contexto dessas iniciativas. Os 15 Arranjos estão distribuídos em oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Bahia, Maranhão e Piauí.
Além disso, é feita uma análise mais aprofundada de quatro ADEs: ADERA (Maranhão), ADE Granfpolis (Santa Catarina), ADE Noroeste Paulista (São Paulo) e ADE Agreste Litoral (Bahia). Os Arranjos de Desenvolvimento da Educação surgiram como uma forma de implementar e fortalecer o regime de colaboração, principalmente entre municípios com proximidade geográfica e, muitas vezes, com características socioeconômicas similares. “Porém, esta não é uma condição indispensável, já que a prática tem mostrado que municípios heterogêneos também podem cooperar entre si”, afirma Eduardo Grin, doutor em Administração Pública e Governo, mestre em Ciência Política, especialista em Sociologia e um dos autores do livro.
Os ADEs são uma maneira de trabalhar em rede, permitindo que os municípios troquem experiências e solucionem em conjunto dificuldades na área de Educação. “Os ADEs vinculam Educação, identidade local, território e desenvolvimento, buscando reduzir as desigualdades regionais. Implementar políticas por meio dos ADEs implica cooperação intergovernamental e articulação com atores sociais”, afirma Catarina Ianni Segatto, mestre e doutora em Administração Pública e Governo, pós-doutoranda e professora do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC) e autora da obra.
Outro ponto destacado pelos autores do livro é que os Arranjos de Desenvolvimento da Educação permitem maior flexibilidade, podendo assumir diferentes formatos institucionais e objetivos programáticos. Um formato único e engessado nem sempre é sinal de sucesso, pois pode gerar pouco comprometimento dos gestores envolvidos. “Para superar isso, quando necessário, os ADEs podem se transformar em consórcios ou atuar com outras entidades, como associações de municípios, possibilitando compras conjuntas, convênios, realização de eventos, capacitações e outras ações. Isso porque ainda não foi instituída uma estrutura jurídica que respalde a composição da composição dos ADEs”, afirma Lizandro Lui, doutor em Sociologia, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em Brasília e mais um dos autores do livro.
“Os Arranjos têm funcionado como um mecanismo que busca superar a lógica autárquica e competitiva entre jurisdições. Fortalecem as capacidades relacionadas à gestão educacional das secretarias municipais de Educação, o que ocorre, principalmente, por meio de formações e da troca de experiências e informações. Além disso, os Arranjos são mecanismos fundamentais para viabilizar ações mais específicas, como formações que seriam inviáveis de serem realizadas em redes de ensino menores”, finaliza Mozart Neves, educador, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, ex-secretário de Educação de Pernambuco e autor do prefácio da obra.
Onde encontrar
O livro Arranjos de Desenvolvimento da Educação: o que podemos aprender com as suas trajetórias? já está disponível para download gratuito no site do Instituto Positivo. Também será distribuída uma versão impressa do livro, que inclui um encarte com QR Codes que dão acesso a 13 e-books, desenvolvidos pelo Instituto Positivo, e que apresentam a trajetória detalhada de cada um dos Arranjos.
Livro para download: https://institutopositivo.org.br/download/arranjos-de-desenvolvimento-da-educacao-o-que-podemos-aprender-com-suas-trajetorias/
Vídeo sobre a obra
Os quatro autores da obra e a organizadora Maria Paula Mansur Mader gravaram um bate-papo disponibilizado no YouTube. “O objetivo é alcançar um público maior do que seria possível em um evento presencial de lançamento, democratizando o acesso à informação sobre os ADEs”, afirma a organizadora.
Instituto Positivo
O Instituto Positivo (IP) foi criado em 2012 para fazer a gestão do investimento social de todo o Grupo Positivo em favor da comunidade. A missão do Instituto Positivo é contribuir para a melhoria da qualidade da Educação Pública do Brasil por meio do incentivo ao Regime de Colaboração. Para tornar isso possível, o IP incentiva e apoia a implantação de Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADE) em todo o país, desenvolve pesquisas e publicações sobre o tema e participa de discussões em instâncias como MEC, CNE, Senado e Câmara de Deputados a fim de contribuir em propostas de lei e resoluções que favoreçam esse modelo de Regime de Colaboração. O Instituto também é responsável pela gestão do Centro de Educação Infantil Maria Amélia, em Curitiba, que atende gratuitamente cerca de 100 crianças em situação de vulnerabilidade social. Para ter mais informações, acesse o site do Instituto Positivo: instituto.positivo.com.br.
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